quarta-feira, 8 de junho de 2011

UM DIA A CASA SAI


Tenho ouvido falar sobre a reconstrução da Casa Pelé e antes que “periquito leve a fama”, achei por bem contar a verdadeira história de como tudo começou. Ouvi da Prefeitura, dizer que “engenheiros e técnicos da Prefeitura estiveram com a família Arantes do Nascimento – em Santos – para desenharem a Casa do Pelé através da memória de Dona Celeste, mãe do conterrâneo e Rei Pelé”.
Inverdade (pra não dizer mentira!): não foi essa administração que conseguiu o feito. Aliás, não foi administração nenhuma. O fato é que, depois de insistir com vários prefeitos e nenhum deles abraçar a causa, fui procurar por Marisa Sarrápio – jornalista e escritora tricordiana – que trabalhava na Associação Comercial e Industrial no ano de 2.006. Contato feito, todos os funcionários da ACITC se envolveram com o Projeto Pelé, em especial o então presidente Paulo Henrique Gonçalves (o Paulinho do Posto Hess; filho do Sr Oswaldo da padaria São Thomé). A idéia era a seguinte: como não existe registro fotográfico da casa onde Edson Arantes do Nascimento nasceu, propus à Associação Comercial patrocinar uma viagem à Santos, para conseguirmos através de depoimentos de dona Celeste, fazermos um resgate descritivo de como era a casa.
E lá fomos pelas curvas das estradas de Santos, aflitos e emocionados com a missão, eu, Paulinho e Débora Pimentel, arquiteta credenciada pela Associação Comercial à epoca.
Chegando lá, surpresa: além de Dona Celeste, Maria Lúcia (irmã do Rei) e Danielle (filha de Maria Lúcia e advogada nas empresas Pelé), estava também presente Tio Jorge - irmão caçula de Celeste - que também é tricordiano, nasceu e morou naquela casa até seus 14 anos de idade.
No início foi um pouco difícil porque, afinal, era uma volta de sessenta anos na história! Mas como somos todos mineiros, a conversa foi aquecendo e as lembranças vindo à tona! Foram três horas e meia de uma boa prosa onde, entre uma lembrança e outra, rimos muito das histórias de Tio Jorge, choramos com as lembranças emocionantes dos dois e, enquanto isso, a arquiteta Débora silenciosamente soltava os traços e fazia surgir as primeiras imagens da Casa Pelé. Além da parte estrutural da casa, foram relembrados móveis, utensílios, cores, enfeites e histórias, numa tarde agradabilíssima e emocionante para todos nós.
De volta à terrinha, Débora – cheia das informações – fez surgir em uma planta baixa, a casa onde nasceu Pelé!
Projeto pronto, apresentamos ao "prefeito de plantão" naquele ano de 2.006 que de cara descartou a idéia por “não gostar do Pelé”. A Associação Comercial se empenhou e foi procurar empresas na cidade que poderiam investir na reconstrução da casa. Os empresários estavam com a visão curta e nada fizeram!
Projeto arquivado – mas nunca esquecido – apresentei-o novamente ao atual prefeito. Consegui convencê-lo a adquirir o terreno onde Pelé nasceu para reconstruirmos a réplica da casa.  Ouvi de um cidadão (antes dele assumir uma secretaria nesta administração) que “iria reconstruir a casa sim, mas não naquele terreno, pois aquele terreno era contra mão. Vamos construir sim, mas em um local mais central, de fácil acesso”... Ora: se o único diferencial nosso é sermos berço do Atleta do Século, como mudar a casa de lugar? Seria o mesmo que tirar Jerusalém de lá e levar o local onde nasceu Jesus para o Vaticano – “mais central e de fácil acesso!”.
Eu disse uma frase ao prefeito e ele sabiamente tem usado-a, o que me deixa muito feliz: “estátuas, monumentos, museus... qualquer cidade do mundo pode construir pra homenagear Pelé. Mas a casa dele, no terreno onde ele nasceu, somente nós podemos ter”.
E assim foi (ainda bem que o surto do secretário não foi levado a sério!).
O atual prefeito abraçou a causa (afinal, na sua administração anterior ele havia perdido a oportunidade de fazer algo por Pelé. Essa era sua segunda e talvez última chance!). Pegou o projeto feito pela Débora Pimentel e passou ao então engenheiro da prefeitura, Gilmar Vilela. Gilmar aperfeiçoou o projeto e foi esse o que seria apresentado ao Rei (já me disseram que Karina Junqueira – arquiteta na prefeitura – também fez acréscimos ao projeto).
Ano passado, eu ainda funcionário da Prefeitura agendei o tão esperado encontro: prefeito de Três Corações com o tricordiano Pelé, apresentando um projeto viável, com verba do Ministério do Turismo e sem pedir nada ao Rei. Três de maio de 2.010 e lá estávamos em São Paulo. Pelé se emocionou com o projeto: ele nunca tinha visto como era a casa que havia nascido e aquele momento foi mágico. Tanto que ele disse que viria aqui naquele ano, no aniversário da cidade, lançar a pedra fundamental da casa. Seria um belo retorno, 27 anos após sua ultima vinda oficial, justamente no ano que ele completava 70 anos de idade!
Não conseguiram fazer a tal pedra, não avisaram para o Pelé nem pra família dele que o convite feito havia sido cancelado.
Por um misto de vaidade, incompetência e desordem, perdemos a chance de comemorar em grande estilo os 70 anos do Edson, Dico, Pelé!
Não me deixaram fazer (por ciúmes ou sei lá o que) e não fizeram. Não suportei o descaso: entreguei meu cargo. Não estava ali pra ser enfeite nem muleta de ninguém: ou o projeto Pelé era tratado com seriedade, dignidade e grandeza, ou, então, eu pulava fora. Pulei!
Agora estão dizendo que a casa sai. Coincidência ou premeditado, está para sair em plena (e velada) campanha eleitoral. Já estão até dizendo que Pelé vem neste 23 de setembro ( ano passado disseram o mesmo!). Não acredito que ele venha: o Dico não gosta de ser usado para fins eleitoreiros! Mas...
 
Escrevi este texto para trazer luz à verdade e narrar parte de  meus 17 anos de luta em prol do Pelé. Querem reescrever a história só pra ter o nome escrito em uma placa. Tenho dó! Mas nem me importo: não possuo o pecado da vaidade. Sei que se sair nesta administração, o que for relacionado a Pelé tem grande parte devido ao meu estado de “Peléjamento” de quase duas décadas.
Só gostaria de pedir que “os donos da placa e do poder” não se esqueçam de citar Paulinho Gonçalves e Giovanni Correa da Associação Comercial que DOARAM o projeto da casa para essa Prefeitura. E também da arquiteta Débora Pimentel, pois sem seus primeiros traços, nada disso estaria acontecendo!
Essa é a verdadeira história da Casa do Pelé. O resto é blá blá blá e jogada política!
 
Peléjando eu estava...
Peléjando continuo!
 
Fernando Ortiz
ortiz2008@gmail.com
http://tricordiano1.blogspot.com/

Renato Brito escreveu:

domingo, 29 de maio de 2011

Casa Pelé: Ideias pequenas, grandes Jogadas!


  Estátua do Rei Pelé, em Três Corações
   No último dia 16 de maio, a capa do jornal "Folha de São Paulo" destacou a conquista do Campeonato Paulista de Futebol pelo Santos. Dia bastante feliz para o Rei Pelé, um dos responsáveis diretos pela permanência do craque Neymar no clube. Em Três Corações, a boa luz prenunciadora do outono entrava pelas grandes janelas da Casa da Cultura e aquecia o ambiente, tranquilizando quase todos os servidores daquela secretaria. Valério Neder, o secretário municipal, era a exceção. Conhecido pelos arroubos autoritários desde que assumiu a pasta, ele tamborilava os dedos na mesa impacientemente, frustrado com o resultado da licitação para a reconstrução da “Casa Pelé”, o primeiro lar do tricordiano e brasileiro mais ilustre do mundo.

Um ano antes, no dia 03 de maio de 2010, Valério e Fernando Ortiz, seu assessor, juntamente com Faustinho e o Sérgio Auad, prefeito e vice, encontravam-se com Pelé em seu escritório na capital paulistana, para tratar do projeto. O Rei, bastante animado com a idéia, perguntou aos visitantes: “Será que a pedra fundamental fica pronta até o aniversário de Três Corações, no dia 23 de setembro?" Faltavam 143 dias para a data, os visitantes se riram, “mas é claro!”. "Então eu irei inaugurar a obra, entende? Está agendado”, prometeu o Rei.

Na viagem de retorno a Três Corações, Fernando era visivelmente o mais feliz com o resultado da reunião. Militante da “causa Pelé” há 17 anos, foi dele a iniciativa do projeto, cinco anos atrás. Cansado do descaso com que as administrações tricordianas vinham tratando o potencial simbólico do seu conterrâneo mais ilustre, em 2006 ele cooptou o apoio de Paulo Gonçalves, então presidente da Associação Comercial e Industrial local, e juntos eles foram a Santos apresentar o projeto para a mãe do Rei. Levaram consigo a arquiteta Débora Pimentel, que naquela visita fez os primeiros rascunhos da casa a partir das memórias de D. Celeste.

Cinco anos depois, agora com o aval do próprio Rei, Fernando rapidamente traçou os próximos passos do projeto. Sugeriu a Valério oferecer a obra da “Casa Pelé” a uma grande empreiteira, ao invés tentar erguê-la com dinheiro público. Cotidianamente, diversas empresas concorrem para ter a marca associada à imagem do maior jogador de futebol de todos os tempos. Ligar-se à sua memória às vésperas de uma Copa do Mundo é um excelente negócio. Com o homenageado comprometido a vir ao lançamento do empreendimento então? Apenas a mídia espontânea gerada pelo evento pagaria a empreitada, inicialmente orçada em aproximadamente r$ 230.000,00.

Para a festa de lançamento da pedra fundamental, Fernando criou o show “De Rei para Rei”, com patrocínio da Nestlé. Naquele ano, Roberto Carlos completava 50 anos de carreira, Pelé 70 anos de vida e a Nestlé 90 anos de existência. Com longa história em Três Corações, patrocinar a festa poderia interessar àquela empresa. Datas redondas, grandes nomes, ideias geniais, mas que tinham um grave defeito: não saíram da cabeça do vaidoso Valério, pecado capital na atual gestão da Casa da Cultura tricordiana. Ao que consta, a secretaria nunca tentou algo do gênero. “Quando apresentei as ideias, o pessoal da prefeitura riu da minha cara”, conta Ortiz.

Sem possibilidade de dialogar e insatisfeito com os rumos que o projeto tomava, Fernando entregou seu cargo. Faustinho tentou persuadi-lo permanecer com outras ocupações. Resposta: "Não to aqui pedindo emprego: ou cuido e faço pelo projeto Pelé ou vou para casa cuidar da minha vida!".

Livre das idéias “megalomaníacas” de Ortiz e sem parceiros maiores que o secretário de cultura a prefeitura conseguiu no Ministério do Turismo a verba para o projeto e abriu a licitação. Publicado no jocoso site da administração municipal e no glorioso “Diário dos municípios” o edital para a reconstrução da casa do brasileiro mais famoso do mundo atraiu 3 concorrentes. E foi vencido pela empresa de Márcio “Ribiti”, conhecido servidor da prefeitura tricordiana.

Como a lei de licitações brasileira impede a participação de empresas ligadas a servidores nos editais públicos, foi  preciso anular aquele processo e propor um novo. Emaranhado em pequenos interesses como esse, o lançamento da pedra fundamental da Casa Pelé ainda não aconteceu. Passou em branco a data reservada pelo Rei Pelé para revisitar sua cidade natal após 27 anos de ausência, e o aniversário de Três Corações em 2010 foi comemorado com o tradicionalíssimo desfile das fanfarras escolares.

No dia 16 de maio último, enquanto a imprensa esportiva mundial especulava se Neymar se tornará o novo Pelé, veio do setor de licitações da prefeitura tricordiana o grande drible da semana. O resultado do segundo edital de reconstrução da "Casa Pelé" foi publicado. Supostamente, agora encoberto pelo nome de um sócio, Márcio “Ribiti” venceu também a nova rodada, motivo da irritação de Valério naquela manhã de sol. Testemunhas contam que, sem saída, o secretário prometeu acompanhar com especial rigor cada etapa da obra, para evitar novos problemas. O que não significa que ele não seja solidário com as suspeitas em torno da legitimidade do processo. Ocorre que já não havia mais tempo para outra licitação de acordo com o cronograma da fonte financiadora do projeto, a prefeitura tricoronária precisou optar entre investigar a situação ou, finalmente, construir a "Casa Pelé". O resultado final do edital, aprovando a empresa suspeita, foi homologado no dia 30/05.

Terá sido essa a melhor jogada?